Morava perto da Vila Militar, e no alto dos seus três anos ficava grudado na janela do quarto observando os soldados marchando alinhados. Ficava só olhando. Olhando, olhando e sonhando.
No natal, ganhou uma caixinha com um monte de soldadinhos, e agora, todo dia depois de assistir a marcha, tarefa já obrigatória e automática, ele ia marchar com seus solddinhos. Alinhava-os em fila e logo tirava todos do lugar, só pra depois ter o gostinho de colocar todos, um por um, na ordem que queria.
Cresceu assim, marchando: ora pela janela, ora sentado no chão do quarto com montes de soldadinhos que ele agora ganhava todos os anos.
Aos sete anos já inventara apelidos e nomes de guerra para todos os soldados. Fossem eles reais, os que ele via sempre pela janela, fossem eles os de plástico. Não interessava. Todo soldado tem que ter nome de guerra, senão não é soldado.
Mas o tempo passou, e o menino, já havia se acostumado a muito tempo com sua marcha diária. Mas ele se mudou. Mas não se mudou pra longe. Ele morava agora há duas quadras de distância do prédio antigo. Agora não tinha mais a vista para o campo onde os soldados marchavam. O garoto ficou deprimido. Passava horas marchando com seus soldadinhos, mas se sentia só por não ter os soldados de sempre marchando do lado de fora da janela. Eles já haviam se tornado seus amigos, mesmo sem se conhecerem. E ele já nomeara cada um de lá.
O tempo passou, e ele acabou se acostumando. Um dia, quando voltava sozinho do colégio, agora com seus 11 anos recém-feitos, passou novamente pela frente do colégio militar, do qual ele nunca esquecera. Quando estava passando pela porta, viu um dos oficiais sair. Ele olhou admirado. Nunca imaginara como seria encontrar-se com um soldado, assim, frente a frente. O soldado não deu muito bola pra ele. Mas ele havia ganhado o dia.
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